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Quarta, 28 de novembro de 2018
Na imagem, os primos Tania, Marcos e Tércio e as bicicletas
Sou do tempo em que toda criança sonhava com independência no mundo real. Nada de mídias sociais ou bate-papos pela internet. Amigos virtuais, websites, aparelhos touch screen? Coisa de ficção científica ou de um futuro muito, mas muito distante! A “onda”, na minha época, era se locomover por aí sobre duas rodas, de preferência, na companhia dos amigos, em animadas corridas sem hora para acabar. Com certeza, uma época em que as crianças se aventuravam a desbravar locais, faziam exercícios (mesmo sem perceber) e exerciam a criatividade ao inventar as mais elaboradas brincadeiras - e estar a bordo de uma “magrela” era fundamental.
Como dizem as crianças e os adolescentes de hoje, ter uma bicicleta era “top”, “top do top”, “topíssimo”. E, quanto mais incrementada e cheia de acessórios, maior o prestígio entre os amiguinhos.
Agora, conquistar uma bicicleta não era tarefa fácil. Não mesmo. O candidato ao sonho precisava dar duro e planejar tudo com muita antecedência para, então, fazer jus ao presente. Geralmente os pais atrelavam a compra de uma bicicleta a boas notas, bom comportamento e demais outros “bons” que variavam de família a família. Comigo foi assim, com você provavelmente também, e se isso tudo soa estranho ou não fez parte da sua realidade, saiba que tais condições caíam como uma luva na hora de definir o presente de Natal da molecada e incentivar boas maneiras ao longo do ano. Por outro lado, o pequeno futuro ciclista precisava ter muita disciplina para ganhar sua bike - além de desejar com fervor o brinquedo e cumprir à risca as regras estabelecidas, era necessário que os esforços agradassem aos pais, avós, ao Papai Noel e aos eventuais interessados.
“Faça direitinho a lição, senão o Papai Noel não traz a sua bicicleta” era uma frase corriqueira e eficaz, sob medida para pais impacientes com filhos levados ou com um pouquinho de preguiça para estudar (obviamente sem a Internet para ajudar).
Desculpem o saudosismo, mas foram bons tempos. Até outro dia. Antes do advento da grande rede, antes da era da comunicação instantânea e acessível e antes dos pequenos descobrirem que não só têm poder de consumo, como também influenciam os hábitos de consumo de seus pais. Muita mudança em um curto espaço de tempo. Essa combinação ajudou a transformar os sonhos da maioria das crianças, relegando o desejo por uma bicicleta ao segundo plano. Não se trata de uma observação vaga: basta observar a quantidade de gadgets voltados ao público infantil e como as crianças têm facilidade para mexer com eles. E, nem preciso dizer, muitas vezes com mais desenvoltura que um adulto.
Saudade do tempo em que saber trocar uma marcha e manter a borracha do freio em dia eram prioridades. E, também, ao fim de um eventual período de castigo, do reencontro tocante com a bicicleta para mais uma rodada de aventuras, que poderiam render mais um período de separação.
Por falar em separação, a bicicleta foi, por décadas a fio, um elo entre pais e filhos. Muitas crianças aguardaram com ansiedade o fim de semana para passear no parque, na praça, em frente de casa ou no quintal. Ou por aquela viagem em que suas bicicletas eram penduradas no bagageiro do carro, tamanho o grau de envolvimento da família com o ciclismo dos pequenos. Muitos pais se emocionaram ao ver suas crias darem as primeiras pedaladas sem o uso das rodinhas. Muitos filhos capricharam nas cartas para o bom velhinho - geralmente escritas com letra caprichada, no português mais correto possível e exaltando suas qualidades e feitos. Nem preciso dizer que, como por um milagre, chegavam à Lapônia bem a tempo do Natal.
No dia do presente chegar, era um misto de alegria e ansiedade. E, para convencer o felizardo que era preciso esperar a manhã do dia seguinte para dar a volta olímpica, quero dizer, o primeiro passeio?
Pois comigo foi assim.
Hoje, quando observo uma criança brincar com um celular ou tablet, muitas vezes me pego pensando até que ponto esses produtos podem efetivamente ajudar no desenvolvimento infantil. É verdade que certas habilidades, tais como memória e raciocínio lógico, podem ser muito bem trabalhadas usando a tecnologia. Mas nada como presentear com uma bicicleta para despertar na criança o gosto pelos exercícios físicos, estimular a vontade de brincar em grupo, ajudar a formar um cidadão mais consciente e responsável no trânsito e, também, engajar um novo defensor do meio ambiente.
Se você é pai, lembre-se do filho que já foi e como a sua infância foi saudável, feliz e ativa, sem um pingo de tecnologia permeando o seu dia a dia. Proporcione ao seu filho a experiência de brincar sobre duas rodas. Incentive-o a aproveitar momentos ao ar livre e em companhia de outras crianças. Saiba dosar, e com sabedoria, momentos on-line e off-line. Assim, seu pequeno poderá ter acesso ao melhor de dois mundos: o virtual, fundamental para a construção do futuro, e o real, imprescindível para a construção de laços afetivos.